O texto é do Blog de Dina, do jornalista Dinarte Assunção, da 96 FM, e relata a história de uma armadilha de 1 mil dólares. Segue:
Na primeira quinzena de 2024, o editor do Blog do Dina embarcou em seu primeiro cruzeiro, atraído pela promessa de mares azuis, festas e experiências memoráveis. Contudo, a viagem trouxe uma lição surpreendente envolvendo um encontro peculiar com duas jovens que pediram ajuda para localizar sua cabine.
Após encontrá-la, o clima amistoso deu lugar a um desenrolar inesperado quando, em meio a conversas e risos, uma delas revelou o real propósito: uma "proposta" no valor de mil dólares. O choque pela quantia, convertida em quase seis mil reais, encerrou o encontro com a retirada elegante do grupo.
O episódio serviu como uma valiosa lição sobre as armadilhas do alto-mar, onde nem tudo é o que parece. O cruzeiro seguiu, mas o aprendizado marcou o viajante, agora vacinado para futuras aventuras.
De tanto meus amigos pedirem a publicação desta história, ei-la. Era o primeiro cruzeiro deste editor do Blog do Dina, aquele sonho embalado por propagandas coloridas de mares azuis, festas infinitas e a promessa de histórias memoráveis. O que ninguém avisa é que, às vezes, essas histórias têm cotações inesperadas, que chegam até mil dólares.
Era a primeira quinzena de 2024. O navio, uma pequena cidade flutuante, oferecia de tudo. Corredores largos, jantares finos e a fauna humana, diversa e intrigante. Eu era um novato nesse mundo, o tipo de sujeito que caminha pelos carpetes vermelhos como se pisasse num território sagrado, atento para não parecer deslocado. Foi nesse cenário que conheci as conheci.
Duas jovens perdidas, disseram. Pediam ajuda para localizar o quarto, enquanto exibiam sorrisos tão meigos. Jamais poderia imaginar. “Que sorte a minha”, pensei. Por solidariedade ou inexperiência, aceitei o convite tácito de guiá-las. Afinal, que mal haveria?
Quando finalmente encontramos o quarto, notei o grupo de rapazes postado no corredor, vozes altas, risadas de escárnio. Eles eram como gaivotas em busca de migalhas, prontos para devorar o que se oferecesse. Não era um ambiente amistoso para duas mulheres aparentemente vulneráveis.
Para completar, mais dois rapazes surgiram, bateram à porta da cabine das garotas e entraram. Senti que a luta fora perdida.
— Olha, entraram dois — disse a eles, tentando soar resoluto. — Somos quatro aqui fora. Acho que as meninas vão se sentir desconfortáveis. – Vamos aproveitar a festa! – E saímos embalados pelo balanço do navio em alto mar.
A Armadilha Para os Mil Dólares mil dólares - Meus amigo e eu antes do golpe fatal.
Foi um discurso breve, mas suficiente para os convencer a dispersar. Enquanto me afastava, ouvi um grito inesperado:
— Natal! Volta aqui! – Uma delas me chamara. Comuniquei aos combatentes que acabara de conhecer que não poderia ignorar aquele convite.
Voltei, é claro. Quem resiste a um chamado tão íntimo em terras tão estrangeiras? Lá estavam elas, acompanhadas dos dois rapazes que haviam entrado, com risos fáceis e conversas que deslizavam como o próprio navio sobre as águas.
A noite avançava, e o papo fluía entre cheiros de cangote e toques de cabelos. Havia um charme peculiar no encontro, até que o clima mudou. A mais extrovertida das moças, antes cheia de doçura, deixou cair a máscara com a precisão de um ato ensaiado.
— Mil dólares.
Foi como um freio de emergência no trem do encanto. Meus amigos, que até então compartilhavam do mistério, arregalaram os olhos como se tivessem ouvido a cotação da bolsa desabar. E eu, tão ingênuo quanto otimista, lembrei-me do dólar daquele dia. R$ 5,87.
Fiz a conta num relance. Cinco mil, oitocentos e setenta reais. Por cabeça.
A matemática é um soco no estômago quando atrelada ao inesperado.
Aos poucos, as peças se juntaram para compor o capitalismo selvagem dos mil dólares. A meiguice, o sorriso, o convite. Não era um acaso, mas um cálculo. E ali estávamos nós, marinheiros de primeira viagem, confrontados com a dura realidade do mercado do desejo.
Com a elegância que o constrangimento permite, anunciei: – Meninas, infelizmente não foi um prazer! Rapazes, vocês me acompanham? – Atordoados pelas conversão de dólares em reais, eles se juntaram a mim sem pestanejar.
O cruzeiro seguiu, e nós com ele, carregando a lembrança de uma noite que começou com sorrisos e terminou com uma cotação que jamais esqueceríamos.
E foi assim que aprendi que, em alto-mar, nem tudo que brilha é só reflexo da lua. Às vezes, é só o preço de uma lição.
PS: para o próximo cruzeiro estou vacinado.